segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O Dom da Formosura



Era uma vez um pavão fêmea.
Ela tinha sido a ultima a sair de nove ovinhos, que deram origem a oito machos e a ela, como única fêmea.
Inconformada com sua mãe, a Natureza, passou a vida numa busca incessante pela igualdade de beleza e fascínio de seus irmãos. Isto porque eles nasceram dotados de majestosas e coloridas caudas de penas, que se abriam em forma de leque. E no topo de suas cabeças, majestosas e delicadas penas pareciam formar uma coroa real.
Um espetáculo para os olhos!
Porém, somente ela tinha o dom de fazer os ovos, afinal, cada um com seu dom. Mas nem este argumento a convencia de aceitar a sua natureza. Tudo o que ela queria era se parecer com eles.
Uma noite, ela - que passou a recusar se mostrar aos outros seres que com ela conviviam - estava passeando mergulhada no tormento de seus pensamentos. Guiada pela luz do luar e das estrelas, perdeu a noção da hora e da distância, e foi parar em um imenso campo de vegetação rasteira, seco e desolado.
Cansada, deitou entre as pedras e o capim seco, e chorou.
Chorou tanto que suas lágrimas viraram sangue, e acabaram por sensibilizar as estrelas.
Órion, o herói grego que ali estava em forma de constelação, resolveu ajudá-la.
Com a ajuda do sopro da Primavera, que estava por chegar naqueles campos, Órion transformou aquelas lágrimas de sangue em água. A água suavizou suficientemente aquela terra seca entre as pedras, cobrindo as magras pernas daquele bichinho sofredor.
De todas as partes se ouvia o sussurro de Órion: 
_Kallio! Kallio!Kallio!
Exausta, a pobre ave adormeceu.
No dia seguinte, a magia se fez concreta.
A ave tinha se transformado num exótico e majestoso arbusto, coberto de flores, nas mais diversas combinações do vermelho do seu sangue. Estas flores tinham a mesma forma das diademas dos pavões, tão desejadas por ela.
Os viajantes que por ali passavam, não resistiam a vontade de parar e admirar tamanha beleza de seu conjunto.

E foi assim que surgiu a Caliandra, também conhecida como "topete de pavão" e "diadema", arbusto típico do cerrado brasileiro, que floresce principalmente na Primavera e no Verão. 
Seu nome significa "dom da formosura".

E entre realidade e ficção, esta é a minha mais pura verdade...

FIM