domingo, 12 de fevereiro de 2012

Floradas na Serra

Certa vez, um amigo nos alugou sua casa de montanha.
Era em Campos do Jordão, uma cidade que fica no alto das montanhas da Serra da Mantiqueira (significa "serra que chora", em tupi-guarani, pelas inúmeras quedas d'água).
No carro, na subida da serra, em um manhã ensolarada de inverno, o panorama era de cinema.
Vencemos a neblina, e as núvens ficaram para trás.
O sol, espetacular, multiplicava os diversos tons de verde das montanhas.
O céu, de um azul imaculado, só se deixava disturbar pelos passarinhos.
E as encostas das montanhas, a cada curva que o carro fazia, era uma surpresa diferente. A erva, sem graça e alta, tinha se transformado em imensos jardins de flores selvagens. Parecia quase que me convidassem a mergulhar...
Chegando no nosso destino, a casa era toda de pedra, como um refúgio daqueles de montanha que neva.
Dentro, havia uma grande sala, com uma enorme lareira, com a mesma parede de pedras do seu exterior.
Deixamos nossas coisas ali, e fomos nos divertir: eu, filhos, sogra, marido, amiga e mãe da amiga...
Depois de passeios, brincadeiras, compras, comida e mais comida, finalizamos a maratona do dia voltando para nossa cabana de pedra.
Chegando em casa, veio o incontrolável hábito de ligar a televisão. E não pegava um canal. Sobre um velho aparelho de video-cassete repousava uma fita (sim, fita, não DVD) com o filme "Floradas na Serra". 
A sinópse não era nada animadora... em preto e branco, mulher com tuberculose e mais outro grupo de tuberculosos. E os atores, então, parecia uma lista fúnebre. 
Como o meu amigo arquiteto moderninho de São Paulo não tinha deixado coisa melhor para eu assistir??
Colocamos o filme porque, afinal, não tinha outro. 
Não levou muito tempo para a atmosfera do filme nos contagiar, e nos levar para dentro da estória. 
Cada vez mais e mais dentro. 
Era possível sentir a brisa do vento, o cheiro das flores, e a emoção daquele grupo interessantíssimo. 
Cada vez mais dentro até que, em uma cena, nos demos conta que estávamos realmente dentro, literalmente. 
A sala, a casinha secreta onde o personagem do Jardel Filho encontrava a Cacilda Becker era exatamente ali, onde estávamos. A casa, a lareira, o lugar! Nosso refúgio era a locação real do filme!! 
Floradas na Serra: surpresa inesquecível que quase não vivencio por puro preconceito...
Eu recomendo!!

Dedico o post a querida Irene, e peço para ela encontrar um modo de fazer passar este filme numa das programações do Cinematerna...