segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O Cajú do Meu Jardim

31 de Dezembro, último dia do ano. 
Vou até o jardim procurar uma Rosa para enfeitar a mesa na espera do novo ano.
Enquanto caminho, a olhar para tudo e nada, um perfume captura minha atenção.
Sigo o suspeito facilmente, pois o aroma espalhado no ar parece ter criado um caminho, uma armadilha até ele.
Cruzo as Helicônias, cumprimento os Lírios brancos, cortejo as Estrelitzias...mas não são elas a me seduzir.
Inesperado, em um jardim, meu sedutor é um cajueiro, de exatos dez anos.
Ele me enche de surpresas, como se já fosse o que esperamos do ano novo.
Adornado completamente de delicadas flores rosas, produzia um perfume intenso e refinado.
Nem me lembrava que ele estava ali.
Durante todos estes anos, ele sempre foi um simples amontoado de galhos e folhas sem graça e sem estética. E a concorrência ao redor, não deu folga.
Outra árvore cresceu quase debruçando-se nele, encobrindo seu lugar ao sol. 
Um arbusto de jasmim, exuberante e sempre florido, era seu parceiro constante, quase anulando a sua existência diante de qualquer olhar interessado.
Hoje, dando a volta pelo cajueiro, vejo o primeiro fruto de sua existência. Ele é pequeno, de vermelho intenso. É rústico e perfumado. De novo, inesperado.
Me dou conta que o que separam são 10 anos, entre a semente que foi plantada ali, e o cajú que hoje posso colher.
Tantas mudanças de vida... de trabalho, de saúde, de humor, de sabor, de família, de amigos...Ficaram alguns velhos amigos. Chegaram novos velhos amigos. Teve gente que se foi porque partiu. Teve gente que se foi, porque não se repartiu.
Nem mesmo a mão que plantou aquele cajueiro está por perto. Não morreu, mas quase equivalente em perdas, não respeitou a si mesma. 
E o que gerou tanta dor, hoje é como a folha que acabou de voar no vento: foi, nem sei para onde. Superou-se.
O cajueiro está ali, sem pronunciar uma só palavra, mas dizendo muito. 
O que ele te diz?
A mim ele disse que é difícil, mas é possível superar. A natureza é assim mesmo: nasce sorrindo para uns, e faz lutar muito a outros. Alguém para te atrapalhar, tirar teu sol, tem sempre. Nem sempre é possível lutar contra eles. Gente "mais que você" também é fato. Vai ter sempre o mais alto, mais inteligente, mais desenvolto, mais tudo...Porém, cada um tem seu lugar. Importante é ser fiel a você mesmo, e seguir seu timbre. Tem sempre o tempo de surpreender, e o de se surpreender. O caminho é duro, mas é matemático: se você tiver que cair e levantar muitas vezes, a experiência fará as próximas empreitadas muito mais leves.
E que, seja bom ou ruim, o tempo passa.
Feliz ano novo, cajueiro.




quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Vida Avião



E se a vida fosse um avião?
Não tem flores...mas, quem sabe, seria bom.
Caminho suave e acarpetado. 
Quando tudo fica meio escuro, luzinhas se fazem presentes.
Luzes para que você não caia, sempre um referencial.
Sentiu calor, aumenta o ar.
Sentiu frio, peça ajuda e uma manta logo chega para você.
Por falar em ajuda, basta apertar um botãozinho.
Não falta água, nem comida.
De verdade, é proibido fumar.
Quando a vida vai dar uma balançada, alguém avisa.
Cada um sabe o seu posto.
Ninguém toma o seu lugar.
Também sabe-se que um dia a viagem vai acabar.
Mas nem por isto perde-se o gosto.
Gostoso mesmo que é voar...
Opa!
Mas será que não é melhor, ao invés de ser passageiro, PILOTAR?