Podia ser Maria e João, Monica e Eduardo, Eva e Adão...
Se conheceram por acaso, ninguém apresentou.
Seus olhares se cruzaram no meio do nada e o tudo se fez.
O olhar cândido de Sybil traduziu imediatamente o desejo vindo de seu admirador.
Invadida pelo desejo, ela mordeu seu tão vermelho lábio inferior.
Dorian sorriu, como um vencedor.
Sybil, para não desmair, baixou o olhar.
Era o encontro da timidez com a audácia.
Sybil amava Dorian e Dorian amava Sybil.
Quando não estavam se beijando, se acariciando, era porquê não estavam juntos fisicamente.
Apesar da atração física, Dorian, que não recusava um desafio, decidiu viver o romance da maneira mais tradicional possível. E pediu Sybil em casamento.
Sybil imediatamente aceitou, e começou a aprender a passar, cozinhar, bordar, pintar e todas tantas outras coisas tradicionais.
Dorian, facinado pela idéia do casamento, escolheu a igreja mais antiga da região para a esperada celebração. Escolheu os copos-de-leite mais perfeitos para enfeitar a pequena capela, e decidiu por cobrir toda a nave por onde passaria a noiva de pequenos e delicados jasmim-limão.
E foi muito longe buscar os músicos e instrumentos musicais à altura do seu sonho.
Passava os dias a preparar o grande dia, mas ao cair da tarde ia sempre para os braços de sua Sybil.
O esperado dia das núpcias se aproximava. E exatamente na noite precedente, ao chegar na casa de Sybil, encontrou esta com um sorriso arteiro e qualquer surpresa que escondia dentro de uma linda caixa de cetim, a qual batia ansiosamente com suas delicadas mãos.
Dorian sentiu um inexplicável arrepio invadir o seu corpo. Apreensivo, não sabia ao certo se queria ou não saber o que tinha ali dentro.
Sybil pouco se importava. E com o mesmo sorriso e aquela mordidinha no lábio do primeiro encontro, ela abriu a tampa da caixa.
Simultâneamente, puxou de dentro um delicado e longuíssimo véu ricamente bordado com pequenos cristais, brilhantes como seus olhos.
Dorian, ao entender do que se tratava, deu um grito de terror. Afinal, conta a tradição, que o noivo ver o vestido da noiva, ou parte deste, antes do matrimônio, é fonte certa de profunda má sorte para o casal.
Mil imagens vieram à cabeça de Dorian. Morreria Sybil momentos antes da cerimônia ou um incêndio no fantástico hotel da lua-de-mel acabaria com a história dos pombinhos antes mesmo do seu começo? E se...
Sybil, percebendo a situação, ainda tentou se justificar, explicando que enquanto Dorian passava dias e dias preparando o grande evento, ela havia bordado o delicado véu. E nada mais justo que ele fosse o primeiro a vê-lo.
Dorian estava arrasado, e não conseguia superar a idéia de que aquele era o começo do fim.
Deveria desistir de tudo. Basta. Basta. Basta.
Era o fim. Sybil tinha estragado tudo.
Este fato ocorreu na Inglaterra, faz muitos anos.
Sim, Sybil e Dorian se casaram, apesar do ocorrido. Afinal, ele já tinha pago antecipadamente a maioria dos fornecedores.
Sybil se tornou uma famosa artista teatral, visto a sua capacidade de representar. Imagine que até a cena do véu era pura mentira dela. Sybil não sabia bordar...nem passar, nem costurar, nem cozinhar. Era quase dissimulada, mas só para conquistar de vez Dorian, que ela amava de verdade.
Dorian acabou por seguir Sybil, que precisava do seu apoio para poder dedicar-se a sua carreira. Dorian passou a cuidar da casa, da comida e das crianças.
Eles tiveram três lindos filhos: Henry, Basil e James.
Três filhos para uma atriz pode parecer muito, mas lembrem-se que Dorian era muito ligado às coisas tradicionais, e uma família numerosa faz parte de tudo isto.
Formavam uma família maravilhosa e harmoniosa.
E naquela casa, ainda hoje se pode ver na parede da sala principal o imenso quadro pintado quando todos ainda eram muito jovens.
Ele retrata aquela família pouco convencional e, simultâneamente, tradicional.
E feliz, muito feliz.
Com carinho, para Maria Clara, inspirado no Romance "O Retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde (Inglaterra,1891), o qual sugiro imensamente a leitura.