Passeando por aquele caminho, rodeado de bambus, podia-se ouvir o cantar da cachoeira que parecia quase como se estivesse viva, e caminhasse ao meu lado.
Observando cada haste de bambu isoladamente, com sua aparente fragilidade, tem-se dificuldade de imaginar o quão poderoso este conjunto pode ser.
De fato, naquela tarde de intenso calor, ali, em meio ao bambuzal parecia estar transportada a uma outra dimensão.
Respirei fundo e pude sentir o frescor, e o cheiro de todo aquele verde.
Seduzida pelo manto de folhas que forravam o caminho, tirei os sapatos e caminhei descalça. As folhas macias e suavemente úmidas me fizeram buscar, curiosamente, de que árvore elas vinham.
Procurei de onde teriam vindo aquelas grandes folhas, que hoje estão ali pelo chão, mas ontem estavam lá no alto das copas, verdes, balançando ao vento e gozando de todos os raios de sol.
Continuei, e mais adiante, pude sentir as raízes de uma imensa árvore.
Suas raízes cruzavam a pequena estrada, num vai e vem quase como se estivessem verdadeiramente em movimento, como se dançassem.
Não foi fácil decidir se passar, ou se ficar ali. Raízes sempre me atraem.
Mas o cantar da cachoeira, cada vez mais perto, me seduziu a seguir em frente.
Abandonei as raízes e fui.
Vi as flores, os pássaros, a cachoeira. Vi tudo.
E achando que tudo havia visto, voltei.
Inesperadamente, ao longo do mesmo caminho, surgiu uma árvore que não havia notado. Imensa, rústica e de aparência antiga. Seu tronco sinalizava uma sucessão de confrontos ao longo do tempo. Um raio havia cortado uma das principais ramificações. Qualquer enxurrada tirou-lhe parte da terra ao seu redor, deixando-a em posição de equilíbrio duvidoso. Não bastasse, algum animal a usou como habitação, e para isto fez um enorme buraco em sua base.
Que impressionante.
Impressionante, e linda.
Impressionante como as marcas de uma vida vivida são violentas e belas ao mesmo tempo.