Ontém de manhã tivemos a triste notícia da morte de Lucio Dalla.
Digo "tivemos" porque estou na Itália, onde este "cantautore", conquistou da bota até o taco.
Navegando pela internet, na procura de notícias do ocorrido em sites brasileiros, quase nada encontrei.
Gosto de definir Lucio Dalla como o mais improvavel dos jardineiros.
Lembro como se fosse hoje, anos e anos atrás, quando numa ensolarada tarde de Domingo, fui até o Parque do Ibirapuera com minha mãe assistir ao concerto de um tal Lucio Dalla.
Não sabia direito quem era, na realidade tinha ido ver "o cara" que cantava Caruso.
O palco grande e alto, montado lá no meio do parque, em um imenso gramado, já estava montado. Tinha espaço para uma banda e, à direita, um grande piano branco.
Lindo...céu azul, palco branco, e a platéia relaxada, cada um a seu modo, naquela imensa relva.
A banda chegou e a multidão se agitou. As pessoas se levantaram, bateram palmas e começaram a chamar pelo cantor.
Fase dura esta, de concerto gratuito, para quem tem menos de 1,70m de altura.
Comecei a me esticar para tentar ver o palco. Comecei a procurar aquela fresta entre as várias cabeças na minha frente para encontrar o melhor ângulo entre mim e o microfone do cantor. Achei!
As pessoas começaram a aplaudir, gritar, mas....cadê o cara? Eu não via nada! Será que ele era parecido com o Julio Iglesias?
De repente veio a melodia, e depois a voz. Num encontro perfeito, numa vibração deliciosa, se fez a música por completo.
E por aí foi. Uma surpresa depois da outra.
Descobri que era dele uma emocionante canção cantada pelo Chico Buarque chamada "Menino Jesus" no Brasil, e originalmente "4 Marzo 1943".
Enfim, ele cantou a então famosa Caruso.
Alguns curtiram, outros choraram, beijaram, dançaram e queriam mais e mais. E ele deu, deu e deu.
Digo que Lucio Dalla era o mais improvável dos jardineiros, porque este cara, que era um "cantautore", ou seja, um que escreve as letras das músicas que canta, não havia estudado música. Além disso, teve a sua carreira impulsionada por uma música que tinha o nome mais estranho do mundo: a data do aniversário dele (4-3-1943). Quando ele fez esta música com uma amiga, não tinha certeza se era boa. Mas teve um encontro improvável com "um tal" Francisco Buarque de Holanda, e cantarolou a música. Chico chorou, tamanha a emoção. Este mesmo cantor italiano, era totalmente fora dos padrões mediáticos: muito baixinho, bem feinho, e só fazia as coisas do jeito que ele queria.
Mesmo assim semeou e colheu flores e mais flores em forma de canções lindas, impactantes nos nossos corações.
Mesmo assim, no momento de sair de cena, tudo isto não impactou a mídia internacional. Para isto, deixo aqui os meus protestos.
Fico triste porque ele foi, mas sou contentíssima porque ele veio!
Ciao, Lucio.