E lá, no meio do sertão nordestino, para as bandas de Caicó, se conta que certa noite caiu uma coisa do céu.
Meteorito, explicou o prefeito.
Seja lá o que foi, veio rasgando o céu que nem estrela cadente. Caiu e sumiu. Não fez barulho nem rachou o chão.
Veio até a televisão da capital procurar, e entre fios e microfones, ninguém nada encontrou.
Em seu leito de morte, Dona Zefa, doceira conhecida da cidade, anos depois do ocorrido, contou somente ao padre que a tal coisa do céu tinha caido no seu imenso quintal.
O padre, pego de surpresa, perguntou porque ela teria guardado este segredo por tanto tempo.
Zefa contou que o tal clarão que caiu do céu trouxe consigo um homem vestido de aviador. Ao ver Zefa ali apavorada, olhou para ela, e falando uma lingua que parecia francês, e entregou uma plantinha.
Das palavras ela só entendeu "mercí". Mas do olhar, ela entendeu que era para cuidar.
Ela cuidou por medo e por curiosidade misturadas no mesmo tacho.
A plantinha era feia, mas danada de cheirosa!
Quando a planta floresceu, Zefa não se conteve com a beleza e perfume de suas flores.
Colocou-as em vasos pela casa, nos armários, entre os livros...até na água de banho.
Fazia tudo em segredo, com medo e respeito pelo homem do clarão.
Um dia, trabalhando em sua doceira na cidade, preparava um creme para rechear um bolo. Foi aí que teve uma estranha vontade incontrolável de por umas florzinhas daquela planta no creme.
"Que loucura! Flor no creme!" pensou Zefa, já colocando as pequenas no tacho.
Tinha sido, de novo, o visitante do céu que tinha palpitado no seu ouvido sobre a receita.
Neste dia, Zefa criou seu ingrediente secreto que levava visitantes até da capital ao pequeno vilarejo em busca das suas "carolinas recheadas com creme do céu".
O padre, sem saber o que dizer, fez a pergunta sem esperar que houvesse resposta:
"E como se chamava este moço que caiu do céu, filha?"
Zefa respondeu:
"Antoine de Saint-Exupéry", disse ela sorrindo.
Antes que o padre pudesse perguntar mais alguma coisa, a querida Zefa veio a falecer. Sorrindo.
Nunca se ouviu falar de um só pé de lavanda naquela região...nem no quintal de Zefa.