Era uma vez uma menina, que vinha de um planeta de pedra. Em sendo de pedra, havia necessidade de tudo. E as suas tias do outro planeta sempre vinham visitá-la com presentes úteis.
Ao completar 13 anos, Luah, a menina, ganhou tres vestidos:
Um verde, que voava.
Um rosa, que fazia encolher.
Um azul, que fazia sonhar.
Luah achou tudo muito estranho. Voar, encolher..realmente útil. Mas...sonhar, que inútil. Afinal, sonhar se faz toda noite quando se dorme. Quem precisa de um vestido para sonhar?
A festa dos 13 anos foi linda. Como manda a tradição, ela ganhou também uma pulseira de prata com treze pingentes, presente de seu pai.
A vida seguiu e Luah usou tanto aquele vestido verde. E voou no meio das núvens, rasante sobre o mar e até junto com os pássaros migratórios da Patagônia.
E mergulhou no mundo quase invisível aos olhos humanos. Usando o vestido rosa, ficou do tamanho de uma formiga. Ela pode ver de perto uma semente germinar. Passeou com as formigas e conheceu a maravilha da engenharia, que é um formigueiro. E até brincou de esquiar na pétala de uma orquídea branca, muito perfumada.
Dias e anos lindos viveu Luah. Mas o vestido azul continuava lá, pendurado, sem uso.
A vida vai passando cheia de altos e baixos, ganhos e perdas. E perdas e mais perdas.
Até o dia em que ela perdeu a esperança.
Não se sabe ao certo se foi a doença, a morte, a decepção ou o coração a causa de tudo.
Mas fato é que a esperança se foi, e não havia recuperação. Ela tentou de tudo, mas a vida ficou insuportável.
Tentou voar para longe, e não conseguiu ir a lugar algum.
Tentou ficar pequenininha, quase invisível, mas não viu outra perspectiva para a vida.
Foi aí que, esgotada, vestiu-se de azul. Deitou, serenou e dormiu.
E sonhou.
Sonhou que voava através das núvens. Minúscula, facilmente desviou dos raios e da tempestade. E pode ver lá atrás de tudo, o Sol, que mais cedo ou mais tarde voltaria a brilhar.
Luah sorriu, mesmo dormindo.
E entendeu tudo.
Esta é. Assim é. Vida.